NÁUFRAGO

NAÚFRAGO

Aquieta a besta fera dentro de si,

a existência a galope

é a instância de quem sofre.

Neste mundo inferno-paraíso,

exorciza a agonia do medo,

o mistério presente em tudo,

a loucura mundana que nos espreita.

Renuncia à vida miúda,

triste viuvinha da vida infinita.

Sacrifica a autosuficiência,

decreta a morte das paixões

em nome da plena existência.

Vê a vida como um rio caudaloso que não ampara afetos.

A cada instante luminoso

sustenta a clarividência nos confins dos horizontes.

No encontro do céu e mar,

consagra a serenidade,

não mais desejar,

apenas contemplar o lírio branco,

e a cada instante brotar,

como as flores brotam sem saber porquê.

Vê os buquês encadeados de instantes coruscantes

que coroam as horas

dos colossais espaços siderais

salpicados de estrelas brilhantes como diamantes.

Devoção absoluta ao êxtase,

ao lírio do vale,

declaração de devoção

ao manto do incalculável.

_ Náufrago, antes que a poesia desapareça, vá a pique!

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é inverno de 2009.