Sincretismo

Procurarei uma Rezadeira

que me ajude a plantar uma roseira;

e que me afaste de qualquer quebranto

de todo susto, de qualquer espanto.

Irei aos Padres Capuchinhos

e lhes pedirei que me abram os caminhos.

E que eu consiga algum sossego

por conta de um banho de descarrego.

(quem sabe, até um chamego . . .)

Também penso em ir ao Centro

e usar o milagroso unguento

recomendado pelo "Cabloco Sargento".

E passarei, como não, no outro Terreiro

em busca do Deus mais brasileiro.

E lhe pedirei que a convença,

do tanto que me compensa,

nessa encruzilhada,

ter uma deliciosa namorada

a quem chamo de "vida amada".

Coisas de brasileiro sincrético,

que não se sabe porque, acha-se poético.

Coisas de sincrético brasileiro

que se entrega à Vida por inteiro,

enquanto se benze com água de cheiro;

ou, que aspira o sagrado incenso

enquanto vive esse gostar imenso

nas noites de morno silêncio.

Paz que só se interrompe pela urgência,

por tanta querência;

por essa paixão primeira,

pela moça brasileira.

Sincretismo religioso,

que o Orixá perpetue esse gozo

de se viver amor tão saboroso.

E que o Senhor do Bomfim assegure

que todo mal se esconjure.

E que alguma Santa (que a fome é tanta)

sempre me garanta

um ramo de Alecrim,

uma benção e um cheiro de Jasmim.

E que, Vida, saibas que será sempre Amada

e que há de chegar a paz desejada.

E que, mangalô três vezes,

passem rápidos esses meses.

Que voem os dias

e, junto, todas as melancolias.

Que haja em cada esotérico Arcano,

o aviso do quanto te amo,

do quanto te chamo;

e a premonição de nenhum engano.

(os outros pedidos, faremos no Mar,

pois logo virá o Novo Ano).

E "epa-babá", axé, amém e saravá.

Por hora, é o que há.

Que se realize teu desejo,

receba um super beijo

e saibas que és meu Anjo benfazejo.

E assim, créduto e abençoado,

de alma e corpo lavado,

que eu possa falar

de estrelas, amor e mar.

Da mulher que me devolveu o gosto de ir

e a vontade de voltar.

Para Lilian