Poema Etílico nº 2

(a Rafael Nunes)

A cachaça é choro de deuses. Seja

de tristeza, alegria, dor ou fúria,

esse pranto nos traz o despudor

e uma liberação da consciência

que nos permite, assim, compartilharmos

daquilo que eles têm de mais humano.

Por um instante, tornamo-nos eternos!

Porém o mesmo instante, após o instante,

vem cobrar sua conta, e nos lembrar

de que é com ele o nosso acordo. Eis

a maldição dos deuses, eis a nossa:

somos instante; eles, eternidade.

Porém, maior será nossa coragem

- que deuses beberão as nossas lágrimas?