VIDA-VIDRAÇA
Vida-vidraça
O vento sibila baixo. É sábado.
Um coro de caretas desfila pelas ruas,
De onde migraram as aves com seu canto.
É junho. Os dias são tão ingênuos!
As horas os devoram imperceptivelmente
Sequestrando anos em revoadas do tempo.
Corpos esquálidos se empinam em cima das pernas.
Rostos tão pálidos, que o sangue não alcança,
Esboçam sorrisos cálidos, mas com tão pouca esperança.
A brisa só me traz tosse, espirros, desgraça. Fujo dela.
Gosto mais do mundo por trás de uma janela
À prova de bala, blindada: a vida-vidraça.
(Djalma Silveira)