A PORTA

Leia-se o comportamento

super-humano da porta.

Ela, pessoa que sente,

fita a rua e se comporta

como ser pensante: gente.

Às vezes, a porta acena,

risos trejeitando à toa,

mas, sobretudo, ela enxerga.

Se a passarela for boa,

então ela aí se alberga.

Frontalmente àquela porta,

eu, na minha, me postava.

Na de lá, rondava aquela,

a mulher que me tentava,

indo da porta à janela.

Já num ontem bem de vulto,

quis a porta esquadrinhá-la

e, para me pôr aceso,

eu fui com alguém à fala,

pois era porta de peso.

Assim, da porta fronteira,

eis a tal dama vivente,

esta um pedaço de dona,

largas ancas, olho quente,

qual em seu corpo a Madonna.

Ih, mas por que minha porta

foi bater em tal recanto?

É que a porta, lá morando,

não se largava do canto,

nem meu olhar, vez em quando.

Na ternura da paisagem,

da minha porta defronte,

um demônio mexilhão,

sempre a revelar a fonte

por quem me morri então.

(Julho de 1996)

Fort., 29/08/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 29/08/2009
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