olhos cansados

Acostumado a ver o mundo

ver as pessoas,

as paisagens e as cores

ver a chuva chegar,

e esperar pela bonança

e tomar cuidado

para não pisar na lama.

Descobri que podia escrever

me disseram que poderia ser um poeta

viram em mim o tal potencial

instigaram o adormecido gigante

de idéias e lirismos

acordes e melodias.

cometeram porém, o velho erro

de não medir nem ponderar o que se fala

não esperavam que tão ínfima semente

em solo tão improvável

desse uma árvore dessas

e viesse um dia fugir do seu controle.

Sinto medo dos machados e moto-serras

constantemente ouço seus roncos

em fúria a me ameaçar

cada vez que me esgueiro

e insisto em abrir os meus galhos

procurando a luz...

mais luz...

Uma represa quase a estourar

ainda não achei o botão

o que serve para destravar

tudo que aqui dentro pressiona

e em conta-gotas vem a tona.

Acho que preciso me consultar

o que há comigo afinal?

um poeta sem motivos

ou ispiração e que mal

entende o que lhe cause esse desgaste.

um idealista falando o previsível,

argumentando o nada... e perdendo.

quem daria crédito a minha pregação?

Visitei a Doutora.

Nada ela precisou falar.

Seus olhos disseram tudo

tudo o que antes não fora por ninguém diagnosticado

estava ali

esse tempo todo

eu via o mundo

pores do sol tão belos,

no horizonte a me presentear.

os pássaros e as nuvens,

as pessoas que passavam,

que ficavam, que mentiam

ou pouca coisa falavam.

Sempre via o mundo

Nunca parei para lê-lo.

Um poeta não é aquele que melhor escreve o que le;

é o que melhor leu aquilo que está escrevendo.

Estou aprendendo a ler...

e achei melhor me ler primeiro...

obrigado Doutora.

estes olhos cansados

hoje lhe agradecem.

a poesia achada

na singeleza do seu olhar,

os meus rejuvenesce.