É tempo, vem

os olhos, eram como o fundo da noite

dilúcidos e semicerrados sob estrelas,

tocaram a linha infinita

precipitada entre o vazio e o deus

deus era uma estrela intocada e medrosa

enorme mas poderia transformar-se

e caber na palma da palma da mão

então o amor explodia: bum!

arrastava consigo todos os movimentos

como uma música enchendo o espaço

uma vaga descomunal,

indo aos poucos tudo ia nascendo

homens e plantas e granitos e gritos de homens

a água era de eras glaciais

se caminhasse mais conheceria

mas se permanecia imóvel

depois ergueu-se muito grande

nimbada dalgum niilismo

de condição feita entre dois instantes

era muito simples: não havia escolha

o sol tomava o céu, um tecido incomensurável

deus devia deslizar sobre ele, era divertido

cada vez que ele deslizava

sentia vontade de se aproximar, tinha medo

o medo, um translado de frio e escuro

num sopro em profundo desespero

como se fosse a parte maior da vida

aberta, imediatamente no peito

Ronaldo de Luna
Enviado por Ronaldo de Luna em 20/06/2006
Reeditado em 11/10/2006
Código do texto: T179102