Soneto último
Onde perdi a intensa voz da vida, meu sustentáculo?
Nesta cavidade disforme, onde me pulsa a febre,
Onde meu eco regela-me a mente. Meu casebre.
Aqui somente vaga a imagem triste do espetáculo.
Queria desfazer-me de mim mesma. Desígnio fácil.
Sentar-me entre as flores, ser como elas. Formosa.
Renegar a laje que me guarda, calar a pálpebra lodosa.
Ser somente o vestígio de mim, numa poesia grácil.
É neste momento, a miúdo, que resumo meu fado,
E profiro o fim poético. Pela morte, dou-me vencida.
Uma centelha de minha voz, feito eco canforado.
É no último canto que o poeta encontra o liberticida,
E deixo aos vermes minhas folhas. Deixo-as de lado.
Já que mesmo em minha poesia não desperto a vida.