Soneto último

Onde perdi a intensa voz da vida, meu sustentáculo?

Nesta cavidade disforme, onde me pulsa a febre,

Onde meu eco regela-me a mente. Meu casebre.

Aqui somente vaga a imagem triste do espetáculo.

Queria desfazer-me de mim mesma. Desígnio fácil.

Sentar-me entre as flores, ser como elas. Formosa.

Renegar a laje que me guarda, calar a pálpebra lodosa.

Ser somente o vestígio de mim, numa poesia grácil.

É neste momento, a miúdo, que resumo meu fado,

E profiro o fim poético. Pela morte, dou-me vencida.

Uma centelha de minha voz, feito eco canforado.

É no último canto que o poeta encontra o liberticida,

E deixo aos vermes minhas folhas. Deixo-as de lado.

Já que mesmo em minha poesia não desperto a vida.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 24/06/2006
Código do texto: T181643