CANTARES DE ENTREGA E DE PASSAGEM
Eu canto o instante fugaz,
o impermanente,
o remar do barco,
algo que vem e vai...
Eu canto o homem e a mulher
que levam os filhos à escola,
porque o haverá amanhã
para refazer os sonhos,
a insensatez de pensar
que somos previsíveis,
que a vida é previsível
como o riso de criança.
Desesperados por significados,
nós os inventamos.
queremos que haja um padrão,
um fio condutor
dos meus lábios que encontram os teus.
A teoria do caos soa inconsistente,
não carrega consigo
a certeza das calmarias
depois de todas as borrascas.
O meu olhar encontra o teu
e o universo se refaz,
navegando na própria memória
todos os absurdos constroem portos
com os pedaços do cotidiano.
Eu canto a reconstrução
da vidraça partida depois do vendaval,
a graça dos movimentos,
a harmonia das formas,
descompromissadas,
soltas no ar.