Motivo*

Eu canto e nesta voz eu me procuro

Quando cada palavra desespera

Na tortura vazia da quimera

Eu canto que sou luz e sou o escuro.

Eu canto a melodia que me alcança

E busco noutro rumo e sigo o vento

Minha voz é da cor do firmamento

Vasto azul saturado da bonança.

Meu canto move o mundo feito sismo

Revela sua face mais secreta

Neste verso profundo como abismo

Nesta causa servil sem par, nem meta;

Eu canto a fantasia ou cataclismo

Finjo a dor, canto a paz - eu sou poeta.

Dudu Oliveira.

* Parafrase sobre poema homônimo de Cecília Meireles.