Ecos de um sonho ainda vivo

1.

Nos oferecemos ao mundo.

Venha, iniciado o ritual,

nos untamos de vida,

e iremos gastá-la.

2.

Contas me saldam

R$ 1 ao dia

durante 17 dias

fora o ticket

vale transporte

e R$ 34 nos cigarros

até o fim do mês.

- E mês que vêm?

Vêm. Antes porém

R$ 1 ao dia

pra excentricidades

pro remédio.

Com muito carinho

acharei sexo - trabalhador

não irá ao cinema

ou dormirá nos motéis,

nem dormirá

ou sentirá dor.

Já, mês vêm,

não há tempo subjetivo.

Gasta-se R$ 623

comigo funcionário,

gastos antes,

a conta corrente

só me prende numa esfera:

o mundo.

3.

Contemplar:

esquecer movimentos,

destruir egos, superlativos,

esquivar a mente da morte,

questionar sem sofrer -

sofrer sem guardar.

Os aplausos não querem o seu coração;

querem um coração. Ainda

pior: qualquer coração.

4.

Certa feita, ao volver

a noite percorrida,

um ambulante pensa

e surrupia, antes de clarear

o dia, trocando idéias

como quem troca de meias.

Nesta certa hora,

outra feita incerta,

levará a agonia

direta do que nele

é incerto. O que no outro

deixa de ser objeto

subjetivado e premido

num azul fundo

onde o sujeito

não é o mundo.

5.

O verso do sonho é real.

Ao inverso, a ilusão fria

do calor que não há,

do movimento que não é,

do instante que não está.

Aborto a voz do.

Além de mim vai.

De onde estou não vibra

o eco de um sonho

ainda vivo.

06.

A corda pra vida

não está na garagem

nem no silêncio da casa.

Não examinei as provas.

Alguém sabe as respostas.

O desconhecido me acompanha:

Ainda tenho companhia.

Mais ao sul do éden,

me acompanhem pelos versos

sem guitarra baixo bateria,

ao som dos roncos de barriga,

a evolução das maravilhosas cidades

em função dos cânticos de esquina .

Joelson Ramos
Enviado por Joelson Ramos em 21/07/2006
Código do texto: T199050