Para uma musa inspiradora

Perdi minha alma no pôquer,

Ou no truco, ou bebendo,

Ou dei de troco pra alguém,

Não lembro.

O que era importante,

Já não é nada,

Quem me amava antes,

Nem me olha na cara.

E o poeta morreu.

Sem flores, nem enterro,

Sepultado no passado,

A sete palmos de medo.

Levou consigo os sonhos,

A paz, a luz, a inocência.

Sobrou o hedonísmo,

O orgulho, a impotência.

Flertes avulsos,

Libertinagem,

Boemia,

Solidão.

Nada sobrou.

Só falsas verdades,

Sinto saudades,

Do amor.

Do amar.

Desisti de sonhar.

Desiludi sem sofrer.

Até perceber.

Até a conhecer.

Não só bela, nem só esperta,

Não só profana, nem só poeta.

Só ela, só ela.

Essa musa não é minha.

Por isso a evito, é proibída.

Não a amo, a admiro.

Mas a procuro, admito.

A venero? Chego a esse extremo?

Dúvido, dúvido.

Chegarei a isso?

Chegarei a isso.