Era uma vez no pântano
Há muito tempo
Um passarinho baio
Com serias dificuldades,
Pedia auxílio aos urubus
De tolo, muito tolo, que era.
Triste e desesperado
Distingue, dentre tantas outras,
Uma ave
(ainda um enigma)
Dessas que andam no chão
E voam quando quer
Percebendo na sua sabedoria
A fraqueza do passarinho
Ela resolve cuidá-lo, inicialmente,
Por alguns dias.
Mas como todo
Processo requer
Carinho, alguns cuidados, tropeços,
Aprendizagem, atenção nos cantos
Não esquecendo das brigas
(essa a maior forma de encanto)
Sucedem os meses
Que bem vividos duram anos
O passarinho
Que outrora voava de galho em galho
Entende os percalços da vida
Recupera-se e volta a voar
Insegura com abrupta mudança
A ave se desespera: de tão majestosa que era
Vira albatroz em terra.
O pássaro (esqueça o passarinho)
Um tanto trôpego
Sem proferir um pio
Agradece muitas coisas
Voando leve com o coração pesado
(ainda um enigma).
Inicialmente a ave voa perpendicular
Talvez por uma nova experiência
Talvez por vingança.
Bate as asas com muita força
E voa. Voa tão alto, mas tão alto
Que vai de encontro ao Sol
Do lugar que ela jamais deveria ter vindo.