Era uma vez no pântano

Há muito tempo

Um passarinho baio

Com serias dificuldades,

Pedia auxílio aos urubus

De tolo, muito tolo, que era.

Triste e desesperado

Distingue, dentre tantas outras,

Uma ave

(ainda um enigma)

Dessas que andam no chão

E voam quando quer

Percebendo na sua sabedoria

A fraqueza do passarinho

Ela resolve cuidá-lo, inicialmente,

Por alguns dias.

Mas como todo

Processo requer

Carinho, alguns cuidados, tropeços,

Aprendizagem, atenção nos cantos

Não esquecendo das brigas

(essa a maior forma de encanto)

Sucedem os meses

Que bem vividos duram anos

O passarinho

Que outrora voava de galho em galho

Entende os percalços da vida

Recupera-se e volta a voar

Insegura com abrupta mudança

A ave se desespera: de tão majestosa que era

Vira albatroz em terra.

O pássaro (esqueça o passarinho)

Um tanto trôpego

Sem proferir um pio

Agradece muitas coisas

Voando leve com o coração pesado

(ainda um enigma).

Inicialmente a ave voa perpendicular

Talvez por uma nova experiência

Talvez por vingança.

Bate as asas com muita força

E voa. Voa tão alto, mas tão alto

Que vai de encontro ao Sol

Do lugar que ela jamais deveria ter vindo.

Jose Carlos Sales dos Santos
Enviado por Jose Carlos Sales dos Santos em 26/07/2006
Reeditado em 29/07/2006
Código do texto: T202358