mulheres chorando

essas mulheres chorando

são como luzes acesas na noite,

deita pálida a lua ao seu lado e um sorriso, sem braços,

e o luto é nos olhos negros e doentes

— a doença da noite e os que vivem sem luz são um só,

apenas que dormem sem um sentido a vida que dormem,

a vida que acabar nunca acaba,

a vida que existe e mais nada.

a vida.

fui olhar as mulheres que choram

e não vi lágrimas,

vi recolhimento e nenhuma ciência,

vi também que havia túmulos nos seus seios guardados

e vi crianças gritando de medo,

talvez fosse a justa ciência,

mas não havia nenhuma ciência,

havia recolhimento

e sabia haver dor,

mas a vida é simplesmente uma dor,

não poderia haver duas.

aprendi sobre os olhos sem lágrima a vida,

mas nunca a vivi,

perdi-me no universo cheio de saudades.

conversei coas mulheres,

mas elas morriam,

caíam mortas no mármor’,

quebravam suas cabeças em pedras tumulares

e escreviam palavras sem nexo.

não existiam mais outros mundos.

inventavam mundos para viver noutros mundos,

mas nenhum existia,

existia recolhimento

e uma ciência apenas então,

a de que nunca houve havido ciência nenhuma,

— e algum dia alguém disse que houvesse uma ciência?.

sou apenas um poeta

que viu mulheres chorando

e parindo sentimentos de aborto sobre a infância.

mulheres chorando e mais nada,

apenas mulheres chorando,

simples mulheres chorando,

mulheres chorando e rasgando desgosto

e crochetando tapetes vermelhos

que estendiam aos pés dos leitos sem sono.

mulheres chorando

e homens doendo,

mas tudo era um só,

tudo é um só,

mulheres chorando

e homens doendo,

e então me vi chorar também,

ouvi meu coração batendo,

era como se batessem à porta

e eu não abri,

na verdade estava inscrito numa pedra tumular,

e me disseram que houvesse uma ciência,

— e algum dia alguém disse mesmo que houvesse uma ciência?.

há apenas mulheres chorando,

e mais nada.

(06/12/2004)