Si

Eu preciso do silêncio:

Na ausência das horas,

dos minutos e diminutos

compassos dessa existência.

Silêncio na criação

e na lisura amortalhada do espelho d água.

Silêncio inodoro sem emoção,

virginal e umedecido nos lábios cerrados.

Silêncio da madrugada,

da manhã de domingo,

do banheiro fechado.

Silêncio do céu estrelado,

do animal dormindo,

da lágrima aflorada.

Eu preciso do silêncio da palavra,

escrita e inerte na alvura do papel.

Silêncio do mundo,

da rua calada,

da sombra estática,

e do vento isolante,

que me envolve borbulhante

para longe dos demais.

Feito de si,

assim é o silêncio:

solitário como o sol

que anseia por um eclipse lunar.

Mas que se faça uma regra,

e se estabeleça uma condição:

Aceito apenas ouvir, Selene...

as batidas do seu coração.

Mescaldo
Enviado por Mescaldo em 01/08/2006
Código do texto: T207085