LIRA QUEBRADA

Perco-me na sonolência dos gestos,

no pensar que se pausa no passado.

O que sinto agora são vestígios,

fragmentos de um tempo que findou

e ao saber-me tão só e entristecido

talvez meu coração se acorde

e mande mais uma vez aquele anseio

que só se faz quando o amor desperta.

Como posso perceber o mundo

se os meus olhos se turvam na distância

e não ouço mais a melodia de teus passos?

Até mesmo, os sabores e cheiros jazem

misturados no bolor das coisas velhas.

Meu Deus, o que há comigo,

por que não consigo sentir,

ao menos uma vez,

o arrebatamento das horas?

..........................

Ó meiga musa, toma-me pela mão

e passo a passo vem caminhar comigo,

conduze-me aos teus átrios sagrados.

Não, não digas nada, nenhuma palavra,

ao menos por enquanto,

o segredo deste momento é permanecer calado

como convém àqueles que descobrem a eloqüência dos gestos,

quando as mãos acordam e se revestem de ternura.

Depois... depois de tudo terminado,

deixa-me ao menos adormecer no teu colo o meu cansaço,

como um pássaro que adormece ao ninho após a faina.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 04/08/2006
Código do texto: T208816