E quando acaba o verão?

O riso solto, desenfreado;

A alegria pura, o afago;

Os dedos, as mãos, os corpos, suados;

Os olhos esperançosos, um abraço.

Mas, e quando o verão acaba?

O que resta do riso, do cheiro.

Dos braços e abraços, do beijo enamorado,

Do amor, da paixão, do desejo incontido, abrasado...

Quando não tem mais carnaval, e a folha seca começa a cair,

Quando o acaso se torna em ocaso, e os olhos se tornam amargos,

Quando o Sol já não mais queima e o seu sonhado amor não mais te espera;

Quando o verão acaba, o que resta?

Se vai a esperança, se vão os anseios,

Com o último raio de sol, vem o desespero.

A ansia por mais um beijo, por mais um dia apenas;

Por mais um abraço, um carinho ou um olhar que seja.

Mas tudo acabou, nesta última tarde.

Enquanto olha pela janela, a aurora que evade

E se pergunta triste, observando os resquícios da festa:

E agora, o que me resta?

Daí, lá no fundo, uma voz se manifesta;

Calma e tranqüila, sábia e honesta.

Com tom doce e suave, mas firme e direta;

E pergunta ansiosa: "Quer mesmo saber aquilo que te espera?"

"Te espera o outono, com o marrom e a melancolia;

Te espera o inverno, frio e branco, esta é sua sina.

Mas não te preocupes, está tranqüilo e espera,

Pois depois se insinua, a linda primavera."

"E se for paciente, se não tiver muita pressa;

Afinal é o único jeito, isso te digo com certeza.

Pois tão certo como o sol, que surge todo dia,

Certo é que o verão, outra vez se anuncia!"