receita de abará
o feijão fradinho
quebrado assim em circunstância
de molho, reste como desejo
de toda temperança
no mais fundo desvão do homem
em que se baste a constância
de como Obá enfrenta a vida
assim guerreira, assim santa
orixá de tudo que atinge
orixá de tudo que tange
de todos os Xangos da vida
em que se resume e se expande
pile-se em pilão sem tempo
das paciências em que se arvore
empenho de quanto se basta
para que não sobre qualquer senão
desmanchado assim em pasta
de perene e uniforme concisão
como em Oba é contrito
o ritmo de sua luta
por desfazer-se em Xango
de todas suas disputas
e construir-se mulher
com um quê de aventura
descanse a massa serena
na concisão do silêncio
e reste como invólucro
de tudo que lhe convenha
cebola em faca se agrida
cortada assim em pedaços
pra que espalhe o suor
de vegetal e de atalho
em direção aos caminhos
das bocas em que se valha
assim como Oba preenche
as lacunas de sua espada
com o ruído do inimigo
que lhe serve na batalha
como um alvo itinerante
de todas as suas mágoas
e camarões à mancheia
como se fosse num mar
de um amarelo dendê
que faz a vida inventar
esse gosto de aventura
que a língua teima em achar
e tudo assim em mistura
amolgado em pau e colher
mexa-se no conteúdo
o tudo quanto se quer
orixa, reza e paixão
Oba, desejo e mulher.
e quando assim travestida
em massa de tal afeição
embrulhe-se em bananeira
em folha e sofreguidão
como se fora um lençol
de guardar rebelião
é que por Oba se permite
sem qualquer contrafação
inventar-se um quase pecado
na palma de nossa mão
e leve-se ao banho-maria
com a certeza tanta do fogo
e no vapor das manhãs
a cozer esteja envolta
com a constância de nós
e a persistência do povo
e quando pronto enfim
apenas um esteja à mesa
com a vontade de todos os outros
de todas as Obas que se conheça