FABER-CASTELL

Indicador e médio dedos compassam as horas na tábua da mesa. Puxaria a cadeira para alguém se sentar comigo, mas ninguém chega, ninguém quer chegar. Se ficar, me embriago; se levantar-me, tropeço. Mas, como não quero ir para casa ficar ouvindo a torneira da pia a pingar, ouso outro copo de vinho para a infusão de outros pensamentos voláteis. Reexamino meu projétil de vida. Lembro-me de Pedro Ébrio, meu amigo imaginário e leitor assíduo. Esteta, sugeriu que eu colocasse mais flores no mundo. Estóico, respondi que as colocaria no cemitério da cidade. Ele aborreceu-se e ofendeu-me. Um dia, volta. Indicador e médio dedos, e todos os demais, com unhas compridas e sujas. Grafite. Creio ser o último a usar lápis e caderneta para rascunhar meus textos crassos e crus. "Ide, missa est".

Escobar Sete
Enviado por Escobar Sete em 18/02/2010
Código do texto: T2093635