Na névoa do ser
Acenda as luzes, desligue o gás,
e me deixe só, pois eu desejo a paz
daqueles que nunca a hão de ter.
Deixe-me arder no meu próprio inferno,
deixe-me errar em meu degredo eterno,
nessa viagem pela névoa do ser.
Eu não sou o Sol, nem tampouco o Norte,
não amo mais a Vida e nem ao menos quero a Morte,
quero apenas o existir sem querer.
Já descobri que, em mim, a realidade
é viver na mais absurda insanidade;
andando e vagando pela névoa do ser.
Sou filha do pecado, e também pecadora,
pois o desejo do mundo imerge em minha pessoa,
e o amor já não sei mais como compreender.
Por quê todo o amor por aqui tem fim?
Por vezes, prefiro até viver assim,
sozinha, errante, em plena névoa do ser.
Mas toque em meu corpo, e eu paro de pensar.
Quem sabe o meu fogo não possa te incendiar?
Talvez te incendiando, posso até entender
que eu ainda posso entrar no Paraíso,
sem que me leve a morte, sem ter nem um pingo de juízo,
e conseguindo escapar da imensa névoa do ser...