Menina-na-rua
Menina-na-rua,
Tão colada na rua
De que não és parte
(És parte de coisa alguma?)...
Cantará, que poeta, a tua dor,
Musa empobrecida sem encanto exterior?
E que expressão, dize-me, dará conta
Da inexpressividade toda, cintilante,
Do teu olhar que já para nada aponta?
Homens velhos, só, e aborrecidos,
Junto a ti decaíram, que contigo
Viveram, talvez, qualquer espécie de amor
Que não demanda sentido
(Contanto lhe dêem abrigo...).
Transposta, tão abstrata, nas minhas palavras,
Vivemos, entanto, no mesmo planeta expulsado
Do ventre de deusa sem poesia.
(E quanto disto é só nostalgia?)