[Movimento dos Barcos]

["Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,

Tout doucement, sans faire de bruit

Et la mer efface sur le sable

Les pas des amants désunis"]

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A montanha, o mar, o sol, o vento;

malas, gentes, luzes e os barcos —

a inteireza do mundo subtrai-se

agora à nossa alma sensível.

Neste instante, os nossos olhares,

antes ternos, mas agora impassivelmente diretos,

esvaziados dos sonhos partidos e de gastas esperanças,

não mais se juntam nos mesmos objetos.

Apenas saídos da nave que vogava ligeira e bela,

desembarcamos em meio à agitação desse cais.

Atônitos, com os sentidos ainda bastante aturdidos,

e as mãos carregadas de incômoda bagagem,

despedimo-nos com dois beijos de fria cordialidade —,

um nada, perto de tudo que vivemos nessa viagem!

Tentando firmezas que sabemos impossíveis,

demos as costas um para o outro e nos afastamos.

Caminhamos pela extensão do cais,

ainda sem saber como serão os dias

fastos em nos arrancar um do outro!

O peito aperta, sufoca, mas o que fazer,

se a nossa nave mágica foi destroçada?!

A brisa nos seca os olhos e confunde em nossos lábios,

o sal das lágrimas e o sal do mar — a dor e a distância!

e enquanto caminhamos, nossos olhares se consomem,

e se perdem no que há de real nesse instante:

o incessante, o "eterno movimento dos barcos"!

E no sem-fim desse cais, iremos sumindo, sumindo...

até nos perdermos entre as gentes e as coisas, outra vez!

[E assim, tentarei apagar de minha mente a sensação de que,

em algum lugar do tempo e do espaço,

havíamos sido preparados um para o outro]

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Para Ana Lucia, em algum dia de 1997.

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 20/03/2010
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T2148883
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