Estrada de lembranças

Vou pelas estradas desta vida

Como quem navega num deserto

Por neblinas invernais coberto

Suprimindo a lágrima caída

Não possuo vosso toque, nem nada

Tenho-te só em meus pensamentos

Tenho uma chuva de sentimentos

Áridos, tal musica sem toada...

Quando num sopro sou remetido

Para um passado já tão distante

Sinto vosso suspiro ofegante

Em meu ombro doce zumbido

Num estalo me transformo em brasas

Tal primavera que se converte

Em verão, mas segue inerte

Em lembranças... É voar sem asas...

Num estalo viro pólo norte,

Vou por este deserto de prédios

Repletos de graças e de tédios

Já não há porto que me comporte...

Aí! Aí! Vou respirando quimeras

Expirando pesadelos cruéis

Vou pelas madrugadas infiéis

Em que tenho alegrias efêmeras

Em meu pensamento és só minha,

Moldo-te tal qual eu lhe desejo,

Pois, no pensamento não há pejo

Desenho-te plebéia e rainha

Dentro de um castelo de promessas,

Num sentimento tão desconexo

Vejo somente teu reflexo

No horizonte saudades espressas

De quem traz alento no semblante

Quero-te em meus campos selvagem

Venha a mim no sopro de uma aragem

Em brumas divinais ser amante...

Vou pelas estradas tão sozinho,

Caminho sobre vidros descalço...

Este amor é tal topázio-falso,

Flor sem pétalas, enorme espinho...

(Joselito de S. Bertoglio)

Joselito de Souza Bertoglio
Enviado por Joselito de Souza Bertoglio em 20/03/2010
Código do texto: T2149387
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