cidade sitiada
retorno ao meu lugar
sento-me entre as letras
e retornam-me conforto:
é preciso vencer o medo.
do instante gelado da manhã
de nuvem sobre o chão
escapo sobre rodas:
é preciso vencer o medo.
saem do quarto
saltam aos olhos
sapatos vermelhos sem saltos
pisam do alto; encaro:
é preciso vencer o medo.
abarco tiros, raios
risos, fardos
mãos, olhares
tragos, cheiros:
é preciso vencer o medo
[é sempre preciso.
recolho todas as armas
enquanto vasculho escombros
e encontro o próximo esconderijo].
devoro versos-mundo
com eles fortifico meu muro
de dentro da cidade sitiada
é preciso vencer o medo.