[O Calor do Passado]

Não é minha missão

fazer sentido do que escrevo,

sou visto tanto pelo que faço

quanto pelo que deixo de fazer!

E saber quem sou já seria demais,

eu vivo à distância de mim,

e para isto, vagas ideias me bastam...

têm de me bastar!

Ando cansado de falar,

mas nunca de escrever;

por vezes, eu escrevo

ainda no calor do estampido!

Na ânsia de alongar o instante,

eu fecho os olhos,

as palavras se desenham no ar,

apanho-as, grafo-as... mas o quê...

elas saem já sem onde, sem pouso...

pois outro é o ser que as pensou!

Por que não dramatizar...

O estampido é passado-presente,

pois o evento mesmo se deu antes!

Ouvi-lo é como sentir o impacto

de um estultificante passado:

é amargar em solidão, e com as mãos,

o cheiro do calor deixado na cama

pelo corpo amado que se retirou,

partiu ainda agorinha, agorinha...

[escuta, escuta só:

é a batida da porta da rua!]

Corte — procuro outro objeto,

fujo ao calor do passado, à amargura...

Mas por que não dizer as razões,

por que não falar destes lençóis

amarrotados, ainda quentes, quentes...

[Como vim parar aqui, não sei...

vai ver, ao partir, o rumo era errado,

mas isto é apenas outra fatalidade.]

[Penas do desterro, 24 de março de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 24/03/2010
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T2156761
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.