O elogio da traição

A carne age por si só e alma se mantém velada.

As mãos entrelaçam-se (deslize), os braços envolvem-se (descuido), os sorrisos encontram-se perdidos pelas mesmas faces.

Os corpos estão frente a frente (como um só).

O mesmo espanto silencioso de um olhar rouba o brilho dos meus olhos por segundos.

Os lábios apenas tocam-se, os olhos apenas encontram-se (ocasionalmente), as pernas roçam-se (impulso).

Não se escuta, não se vê.

Fogem de si mesmos e da chama que os persegue.

Os corpos repelem-se (dúvida), a carne deseja (pecado), a alma impede a traição (momentaneamente).

Cavalgamos por pensamentos e volúpias, beirando o risco de outro acaso.

O mesmo odor carnal e pecaminoso exalava de nossas peles, o mesmo engano.

Os lábios apenas roçavam-se (erro), os corpos apenas encaixavam-se (destino?).

Eis o amor um blefe a elogiar a traição.

Os olhos apenas fechavam-se (medo), os corpos apenas perdiam-se, os lábios rejeitavam-se (culpa), doces palavras anunciavam um fim amargo.

O sabor da ilusão é tão doce, mas o paladar permanece sempre azedo.

YIFS
Enviado por YIFS em 29/03/2010
Código do texto: T2166631
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.