PALAVRAS

Sem palavras,

O mundo não existe.

Mas com elas,

Ganha formas, atributos e significados infinitos.

Azul, bonito, injusto, cruel...

Outro dia o mundo era uma bola de futebol

num desses comerciais de TV.

A palavra define o mundo.

A palavra é tudo e tudo é palavra.

Como parte do tudo

Também sou palavra

E assim sendo, posso ser qualquer coisa,

Mas Não coisa qualquer.

Cuidado!

O Aurélio diz que posso ser de Asno à Zoólogo

Mas quem é o Aurélio para dizer quem sou?

Ele nem me conhece!

Nem Asno, nem zoólogo. Sou apenas eu.

Mas se o Aurélio, que é o Aurélio, não pode definir quem sou eu.

Então quem pode?

Será que há palavras que encerram todo o meu ser?

Se eu puder escolher uma,

Quero ser uma proparoxítona.

Elas são raras, as danadas.

De tão raras, gramáticos decidiram que todas devem levar acento:

Único, último, fantástico, parapsicólogo...

Não é bacana???

Ainda assim, nem mesmo elas podem me definir completa e permanentemente.

Mas também, que mania boba essa de querer definir tudo.

Não posso ser indefinível?

Tenho que ser escravo das palavras

E viver preso à elas para sempre?

(...)

(...)

O pior é que tenho.

O mundo todo tem.

Somos reféns das palavras.

Sem elas, voltamos ao princípio.

"NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."

O que dizer mais?

Estou sem palavras!

Roger Beier
Enviado por Roger Beier em 15/08/2006
Código do texto: T216979