FUNÂMBULO

Impossível viver

sem passar pela morte.

Precisar de morrer

para voltar à vida.

Ficar sozinho no arame

sobre abismos sem fundo.

Fazer da fantasia um jogo

e alimentar-se dela.

Olhar-se nos espelhos

dum circo já vazio

como um túmulo.

E sofrer

sorver o cálix

dum veneno amargo e letal.

Atravessar o túnel

tenebroso

à procura de si.

Hibernar

até que finda a letargia

um dia

se liberte de ti voando

uma gaivota rumo ao infinito.

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 21/08/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T221752