Bio Sintática

Eu, substantivo, da ação verbal

Como objeto jamais quis permanecer.

Nutri em vida o ledo sonho

De como sujeito me enternecer.

Fui infeliz na sintaxe da vida,

Pois primeiro me coube a função

Completiva de outro nome

Por imposição de um único ser.

Tornei-me passivo e subordinado,

Com deveras esforço, galguei novo cargo.

Como adjunto caracterizei um cognato

Desses, por todos, mais aclamados.

Tempos passados me coordenaram

E por meros instantes me orgulhei,

Mas quis o sádico destino alomorfizado

Que eu fosse somente simples derivado.

No processo verbal, deixaram-me

Sem me consultar, no predicado.

Tolo eu fui, pois não me permitiram nuclear...

Completei, assim, um indiferente verbo irregular.

Sofri a farfalhada zombaria

De ingratas preposições....

Delas nada mais se pode esperar,

E a pena caridosa das interjeições

Suspirando seus Ais, ais!

Ao meu lugar me pus

E a passividade do termo aceitei,

Quando me promoveram à categoria

De objeto, mas por não confiarem,

Fui pleonastiquizado sem piedade.

A pena, cumpri sem questionar

Pois esperança mantive de me verbalizar

E na diferente construção,

Enfim me realizar.

Não tive a sorte

E no período vaguei

Sem fixa posição,

Totalmente sem lugar.

Quando por fim a notícia tive,

Estava a me deslocar.

Convidaram-me para sujeito

E nem pude acreditar.

De gala me vesti

Todo, inteiro e aprumado

Com o sorriso exposto compareci

Para ser apenas indeterminado.

Magoado com os termos

Faltando a concordância

Brigado com a regência

Desisti da gramática.

Fui ser anacoluto na vida.