Sabe?

Sabe aquele desejo

que eu tinha de ficar

com você nos braços

pela eternidade inteira?

Fugiu de mim esta manhã.

Até que tentei segurá-lo,

mas ele, lépido, correu

e atravessou a avenida.

Morreu debaixo das rodas

daquele carro vermelho.

O motorista nem reparou

o mal que havia causado.

Foi em frente pensando

que o salto do automóvel

deveu-se a quebra molas

desses tantos mal sinalizados.

Na banca de jornais comprei

o diário, peguei a folha dupla

dos classificados e depois

de tê-lo arrastado para perto

do meio fio, cobri-o no ritual

devido. Só faltou uma vela

para tudo certo sinalizar

e o desejo defunto velar.

Larguei-o lá no asfalto

e segui devagar, lembrando

que há bastante tempo,

bem antes deste triste

e comum desenlace final,

era patente claro sinal

de que esse nosso desejo

queria ir embora, fatal.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 12/05/2010
Reeditado em 11/11/2010
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