BEM ACOMPANHADO

- você odeia as pessoas?

- não, mas prefiro quando elas não estão ao meu redor.

(Charles Bukowski)

Dou um belo chute na bunda da felicidade

E espalho meu vômito em sua cara de arrogante...

Não tenho a mínima dificuldade em ser feliz,

Primeiro, porque mulher nunca foi um problema pra mim,

As tenho sempre beijando meus pés...

A começar pela cafetina mais barata que existe: a hipocrisia.

Esta, sempre esteve abaixo do solado imundo de meus sapatos!

Sem falar ainda, que a riqueza me contempla

Apesar de ainda não ter um tostão furado.

Pouco importa!

Dinheiro não passa de uma alegoria em papel colorido,

Que serve apenas para lavar a alma da babaquice dos homens!

E assim, quando eu decidir tê-lo

E resolver lavar a alma que me banha no mar da tolice,

Já saberei o que fazer: irei investir tudo que tiver em pipocas.

Pense bem: um saquinho de milho custa apenas um realzinho furado,

Com um saquinho desses, conseguirei fazer dez de pipocas

Que venderei a dois reaizinhos mais furados ainda.

Dois mil por cento de lucro...

No mais,

Só o que tem por aí é moleque bobalhão querendo comer pipocas

No parque, no circo, nos bosques e nas praças!

Sem contar os jovens seduzindo as namoradas no cinema

Usando a pipoca como um pretexto esquizofrênico!

Está vendo, pipocas constrói até o amor!

Para ganhar um milhão é preciso esconder a mixaria.

A mesma mixaria que serve pra matar nossa sede de ganância!

Ah... também sou bem resolvido no quesito amor:

Não amo porra nenhuma!

Deixando cada vez mais, a felicidade com inveja de mim.

Fui abandonado pelo medo e pisoteado pela covardia

Do isolamento!

Onde moro, por exemplo...

O meu lar é uma morada à beira mar

Que foi deixada pelo meu anjo insano!

Nela, bate o vento beijando-lhe a boca salgada.

O meu retiro transa

E tem orgasmos frenéticos com o sossego.

Carro importado e luxuoso não precisa,

Pois não arredo o pé da minha varanda arejada,

Por nada nesse mundo, a não ser ao caminho do mar

Em minha jangada, empunhando minha rede de pescas,

Quando vou buscar o meu jantar.

Dessa forma vou vivendo cara a cara comigo mesmo

Sem um pingo de vontade, nem uma gota de medo

Do poder do ódio e da barbárie da felicidade...

Bom... os raios do sol namoram a minha pele, e, pela noite,

O brilho da lua deixa mais sombria a minha solidão!

Se vê que adoro esse casamento

Onde pulsa a repulsa do fingimento e da infidelidade...

A solidão me é uma esposa recatada, mas como sou infiel,

Tenho ao meu lado como prostituta barata, fácil e indefesa,

A presença das pessoas atormentando o meu egoísmo.

Agora, já vou indo dormir, pois a garoa da solidão

Me banha todos os dias as seis da manhã!