[Do que me Participa este Mundo]

Fronteira de Minas e Goiás...

Naquele tempo de esperanças incontestadas,

o monjolo trabalhando cedinho,

a tiração de leite debaixo de chuva fina e fria -

tempo bom de segurar menino na cama,

e o gato se aquentar no rabo do fogão de lenha...

Do que mais me participa este mundo...

Ah, das coisas que em criança eu vi,

e não me esqueço jamais...

Dos velhos muros de taipa, das ervas daninhas,

das flores amarelas ao sol das tardes,

das dores dos primeiros ferimentos

a me mostrar a fragilidade deste corpo,

e da primeira noção de maldade -

o criminoso que vi guardar a arma na cinta,

e deixar atrás de si, um homem exangue...

No giro do vento, rodam ao longe as lembranças,

voam as imagens, partem para o infinito,

para além das montanhas que ponteiam

o horizonte com seus cumes cinzentos...

Mas não é da velha fazenda na fronteira de Minas e Goiás,

e sim, de outro país, a ambição sonhada na juventude:

a emoção de ter sido o primeiro ser humano,

num experimento de Física Nuclear,

a desvelar uma das infinitas chaves

com que a Natureza oculta seus mistérios!

Ah, aquele sabor de chegar na frente!

E de tudo que me participa este mundo

fica-me este espanto sempre novo:

o que é o mundo... oras, não é nada,

e é tudo, tudo que nasceu com o meu

primeiro chôro, e fermentou, mudou,

deu nisto que agora vai sumir comigo...

Eu sou menos que nada...

[Penas do Desterro, 14 de junho de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 14/06/2010
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T2319656
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