O Nada de Sempre

Vamos falar sobre o nada

O nada que nunca se acaba

Aonde você vai lá está o nada

Inteiro soberbo ocupando tudo

Que se possa

Desde o raiar do sol

Na madrugada mais plena

Até o derradeiro suspiro

O nada cabe na palma de sua mão

Na ponta de sua língua

No meio de suas pernas

A respiração do nada

Simula-se no vício das horas

Um poeta amigo

Disse-me que o nada

É a farsa mais verdadeira

Da extinção humana

A terra é o ventre de todo

Palavrório do nada

Há nadas metrôs

Nadas espetáculos

Nadas políticos

Nadas qualquer coisa

Na palma de minha mão

Esconde-se o nada de mim

Com gosto de mel e sangue

Esperma e esperança

E transmito aos meus filhos

O absoluto de um dia

Eu não ser nada mesmo

Apenas uma memória soprada

No vento de uma madrugada

De sol raiando e pássaros sinfônicos

Ou de um samba que pensei

Em escrever e deixei para depois

E se perdeu no nada do meu

Cotidiano urbano e caótico...

Ras Adauto
Enviado por Ras Adauto em 07/09/2006
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