Loucura mansa
Fala o poeta
de uma verdade
que está nas ruas,
mas não aparece.
Recupera os versos
do cotidiano
que os pés esmagam
sem perceber.
Resgata o oxigênio
desperdiçado
em vãs preocupações.
Descobre entre a fumaça
das cidades,
perfumes e cores
que o instinto abandonou.
Traz a lira embutida
no peito
e, disfarçadamente
transpõe a música
para as teclas
de um moderno
computador.
Veste-se de executivo,
e enquanto despacha,
esconde versos
nas gavetas da alma.
Caminhando pelas ruas
atormentadas,
cultiva palavras,
no único espaço
ecológicamente
protegido.
E, ao descobrir
seu verdadeiro ofício
de poeta,
esquece salário,
fundo de garantia
e até mesmo
aposentadoria.
Até se convencer
pouco a pouco
que não é louco
e, finalmente resolve,
mostrar ao mundo
sua poesia.
(escrito em 2005)