Loucura mansa

Fala o poeta

de uma verdade

que está nas ruas,

mas não aparece.

Recupera os versos

do cotidiano

que os pés esmagam

sem perceber.

Resgata o oxigênio

desperdiçado

em vãs preocupações.

Descobre entre a fumaça

das cidades,

perfumes e cores

que o instinto abandonou.

Traz a lira embutida

no peito

e, disfarçadamente

transpõe a música

para as teclas

de um moderno

computador.

Veste-se de executivo,

e enquanto despacha,

esconde versos

nas gavetas da alma.

Caminhando pelas ruas

atormentadas,

cultiva palavras,

no único espaço

ecológicamente

protegido.

E, ao descobrir

seu verdadeiro ofício

de poeta,

esquece salário,

fundo de garantia

e até mesmo

aposentadoria.

Até se convencer

pouco a pouco

que não é louco

e, finalmente resolve,

mostrar ao mundo

sua poesia.

(escrito em 2005)

Mareluz
Enviado por Mareluz em 10/09/2006
Código do texto: T236799