Dando continuidade as reticências...

Venho tentando rebuscar minhas palavras

Pois sei que longe elas de mim nunca se foram

Apenas não consigo agora reencontrá-las

Da forma plena como sempre me chegaram

Pra que eu assim pudesse então intermitente

Ir retirando uma a uma gentilmente

Dessa inquietude que me rasga o coração

É que eu amava brincar de dançar com elas

Mesmo quando embaralhadas e perdidas

A correr, sorrir e chorar dentro de mim

Mas aos poucos vou dando rumo aos poemas

Com a ternura de quem guarda afetos e dilemas

E ainda de peito aberto a procurar em desalento

Em qual dos sentimentos se perderam as palavras

Para que eu, resignadamente, possa lhes reservar

Um lugar permanente nos arredores de mim

E assim ficar a absorver, carinhosamente cada verso

Onde silente, eu os perdoaria, os isentaria e os compreenderia

E quando já não mais tivesse onde colocá-los

Pois o lado de fora certamente ínfimo se tornaria

Eu os abraçaria como quem abraça o vento

Diante a essência do que foi contemplado

Já que o lado de dentro de tão demasiado

Pariu desventuras com a pureza dos inocentados

Posto que eu sempre me quis muito além da poesia

Muito além dessa sonhada e embriagante fantasia

Porém, não me furto das emoções que afloram

Apenas me adormeço propositadamente

Ao sentir de forma consistente e tangível

Toda a concretude deste meu casto pensamento

Concebido no caminho entre as flores e os espinhos

Onde lá, as perguntas continuam redundantes

Insistentemente conflitantes e sem calma

A fecundar-me ilusórias primaveras

No inconformado cerne da minh’alma

Porém agora, diante as estações já maduradas

Faz-se necessário admirar o azul da lua

Com a postura de quem fica apenas a observar

Com os olhos ainda que encantados e marejados

Invisível no mesmo espaço que sempre me coube

Porém, pés fincados no chão

E ainda com meu fiel e abnegado Sol interior

A me aquecer em fogo brando...