Duo

Duo

(ou Reintegração)

Sou uma

E sou duas.

A que se veste e a que se despe.

Dentre as coisas que visto,

Encontra-se a que espera.

Dentre as coisas das quais me despojo,

Encontra-se a que sofre.

Quando sou duas

Sou una.

Pois que uma me fala e a outra

(finge que não ouve)

escuta.

Se cumpre o destino

Ditado em segredo em seus ouvidos,

Não sei

Mas o destino que carrego em minha voz

Me arrasta,

Por vezes me arrasa,

Nem sempre se cumpre.

Por ironia

Cabe a mim conduzi-lo.

Caminho em dupla

Comigo mesma

Nestes dias de busca intensa

Onde nós duas temos lugar

Porém em espaços distintos.

Eu a sigo,

Ela me segue.

Em certos momentos nos abraçamos

Com medo

E choramos de dor.

Em certos momentos

Nos olhamos com calma,

Em pleno reconhecimento

E sei que sorrimos.

Em certos momentos nos deixamos

Para matarmos uma à outra

Mas hoje

Não mais podemos partir,

Tomar rumos diferentes:

Nosso destino (uno)

Nos aguarda logo à frente.

Uma porta, uma passagem.

Do outro lado

O espaço de um único ser,

Reunido de seres, todos meus, mas um único ser.

Sou una, sou duas,

E não temo a dualidade

Não mais.

Meus pedaços,

há tempos espalhados no espaço

de minha mente e do mundo,

retornam,

fragmento a fragmento, do passado e do futuro...

Acolho-os, acolho-me.

Cuido de cada parte ferida,

Enterro e choro cada uma que não sobreviveu,

mas mesmo assim voltou à sua origem.

Recomponho-me, reergo-me,

refaço-me,

Ilumino-me.

Aquece-me o Sol do universo,

E minha órbita, revivida, é una com a Terra.

Rio, 22 de maio/2005

Ana Silva
Enviado por Ana Silva em 11/09/2006
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