Pobre Sophia

"Exercita o teu conhecimento mundano, pobre Sophia, só nele encontrarás saída para teu abismo erudito. Bem sabes que teu pai há de conservar você numa alcova de ouro pelo tempo que lhe for preciso, mantendo você longe dos prazeres e das tormentas, seduzindo você com nobres refeições, quando na verdade tua gula ainda nem foi bem exercitada.

Pule, pobre Sophia, a janela de teu quarto, desça a torre Rapunzel, e descubra o mundo mágico e pervertido que está sob teus pés. Ele lhe pertence tanto quanto a mim e meus comparsas de taverna. Experimente o vinho, o sabor das belas uvas, a fragância dos melhores perfumes e dos piores também, pois é neles que encontrarás semelhanças maiores com teu ser. Tua alma há de se encontrar em contato com a carne e tua carne há de se encontrar com outra carne, para poderes entender de que é feita. És carne, osso, alma e terminações sensoriais espalhadas por toda extensão do seu corpo.

Enebrie-se do fel, vista-se deslumbrante, mesmo que isso te custe caro, pois o preço do teu prazer é maior do que imaginas.

Pobre Sophia, experimente tocar suas carnes, enquanto lê minha carta, experimente sentir o cheiro íntimo do prazer... há de notar que falo a verdade. Por hora, estas são minhas indicações. "

Sophia terminou de ler, guardou a carta dentro de um livro e fechou a porta. Ia experimentar as indicações de Galdevour. Toques leves e tímidos de menina comportada, mas de energia absurda que seria capaz de contagiar qualquer um que estivesse por perto. Ao fim da noite, já recomposta, tornou a ler a carta de Galdevour, carta que iria guardar como um tesouro, muito bem escondida de seu pai.

Passou-se algum tempo sem que Sophia recebesse outra carta, ou que seu pai tocasse no nome do amigo, pois Galdevour era amigo de seu pai. Ansiosa a garota ousou perguntar sobre ele a seu pai.

- As vezes ele fica um bom tempo sem aparecer, ele é assim! Esses jovens são assim! Mas porque perguntas minha filha? Nunca notei interesse seu por Galdevour, além do mais... não acho que seja homem para você se interessar! Bom, ele não me deve explicações, mas tenho motivos para crer que é um libertino!

"Libertino", ao ouvir esta palavra da boca de seu pai, Gunnoy de Rechombrè, um brilho se extendeu no olhar da menina e um sorriso se fez nos lábios.

- Nada demais pai! É que ele sempre traz um presente para você, noto que o senhor gosta da presença dele...

E não se falou mais nele. Nem por isso Sophia parou de pensar nele, gostaria de receber mais instruções, gostaria que Galdevour lhe ensinasse como ser uma devassa como ele. Estava disposta a pagar pelo preço, e iria, sim, iria pagar. Estava tão ciente que as vezes criava diálogos inventivos para caso seu pai pedisse alguma explicação. Usaria palavras requintadas assim como Galdevour usava em suas cartas!

Ao completar um mês da primeira carta, eis que a segunda chega às mãos de Sophia através de um mensageiro, que a encontra no jardim do castelo, próxima à um labirinto de flores e arbustos altos.

- Senhorita, alguém que não quis me dizer o nome, mas garantiu ser de extrema importancia para você, pediu que lhe entregasse essa carta, mas pediu sigilo total! Mas visto que você é uma jovem dama, e pelo seu olhar de satisfação, creio que já deves saber disso e não haverá maiores complicações não é? Quanto ao pagamento, eu não entendi muito bem, mas ele falou que se você tivesse gostado da primeira carta iria me dar o pagamento.

Sophia hesitou por um instante, mas depois entendeu o que Galdevour estava propondo. Um teste para a jovem, mas ela estava certa. Era já uma libertina, e confiante olhou no fundo dos olhos do mensageiro.

- Hum... sim! Inteligente da parte dele... Pois bem, seu pagamento está bem aqui, debaixo do meu vestido... quer vir pegar?

E saiu correndo para o labirinto de arbustos e entre as flores foi jogada quando o mensageiro a alcançou, tinha um olhar sedento, uma lingua mais ainda e naquele momento, a garota virou uma mulher.

Depois que o mensageiro foi embora ela abriu completa de satisfação o envelope e leu uma carta curta como a outra, com letras rápidas, que dizia o seguinte:

"Pois bem Sophia, se estás com a carta na mão é porque mereces o que tenho a lhe ofertar! Acredito que pensou bastante nas indicações que lhe dei, e hei de acreditar que as seguiu bem como mandei, mas deve estar sedenta por mais dicas não é minha jovem? Então, irei as passar pessoalmente! Não há oportunidade melhor que essa para você conhecer as volúpias da vida.

Irei passar a meia noite no portão de seu castelo, você virá comigo. Tenho um lugar para nós passarmos uma primeira noite e nas demais arranjaremos um local. Já lhe adianto que o luxo do seu castelo não será encontrado nos primeiros dias, talvez meses, mas terás a luxuria em troca, a satisfação, e quantos homens desejar ou precisar para saciar suas vontades.

Agora despeço-me com amáveis considerações, até a meia noite Sophia.

PS: Espero que gostes de cavalgar..."

Seus olhos se encheram de esperança e sabia que iria se aventurar num mundo totalmente novo. Sophia estava radiante!

Reny Moriarty
Enviado por Reny Moriarty em 15/07/2010
Reeditado em 16/07/2010
Código do texto: T2379644
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