Olhos de desespero

Grito na madrugada

mas, todos dormem...

Sinto a mão da violência

agarrar-me pelos cabelos

enquanto sou amordaçada

pela sociedade que sofre calada...

que se acostuma

com a mão sangrenta

que puxa o gatilho

e seqüestra suas crianças...

Eu sinto a lâmina fria

da impunidade me atravessar

Os tiros de uma justiça cega

me acertarem

Enquanto ouço os gritos dos parentes envolvidos

o ranger de dentes no necrotério

e a televisão anunciando mais uma corrupção

mais um roubo, outra fraude.

A sociedade está coberta por chagas

que a consome do centro para a periferia

e as nossas esperanças estão nas mãos

de bandidos de 1° escalão.

Nossos representantes,

nossos governantes

não querem saber de nós.

Tudo está sujo e mergulhado em excremento

a sociedade está indo cada vez mais fundo

nesse círculo vicioso

Os poderosos sobem e pisam em nossas cabeças

e cospem migalhas de uma solução

Mas, eles não querem a solução

que os derrubaria, que os aprisionaria na igualdade social.

Eles se alimentam do nosso sangue

abutres, urubus que rondam nossas vidas

que antes da morte, ferem nossos olhos e nos cegam.

Eu odeio admitir

que eles mandam no cotidiano

Odeio admitir que eles nos acorrentam

em esperanças fajutas e ilegais

Vou berrar minha indignação

devolver-lhes os ouvidos e os olhos

Não posso fazer muito, mas vou escrever

e os analfabetos ouvirão minha voz.

Antes do sol se pôr sobre a minha vida

ainda verei os poderosos no chão

e a sociedade voltando à humanidade!