O INSTANTE BREVE
Quantas flores nascem
e morrem no mesmo dia,
rasgam a cortina da vida
e se jogam intensas
no instante breve?
O homem,
que mora na segurança,
cai do penhasco
e fica preso no alçapão longínquo
que não conduz a nada,
com medo
que os outros também percebam
as suas fraquezas
e até o olhar indiferente
revele que é substituível,
descartável.
No des-velamento do mundo
a linguagem não está no horizonte do tempo,
penetra todos os instantes,
caminha para frente e para trás,
retira suas vestes,
até as mais íntimas,
sem-vergonha
da fragilidade do nu
que conduziu à inocência de Adão e Eva
banhando-se nas águas do éden antes do pecado.
O mundo existe
porque existe a linguagem do efêmero,
ela fala da fonte do ser das coisas,
da representação da vigília e do sonho,
da arte de dizer o que os sentidos reconhecem
como a face oculta que traça,
divide, une e depois separa.
As coisas falam
porque estão reconciliadas,
a chuva fustiga a nossa face
com promessas
e o rio verte as lágrimas
que poupamos.