Soneto da desesperança
I
Foste uma rosa pequena
Pétalas azuis, serena
A quem amei sem pudor
Como quem cuida do andor
Eras rodeada de abelhas
Vinham pedir-te a centelha
Divina, que iluminava
A estrada de quem passava
Gozavas na flor da idade
Do amor, com a liberdade
Que eu nunca presenciara
Tu foste a beleza rara,
Alegria do teu jardim,
Que um dia sonhei pra mim
II
Roubei-te de onde vivias
Adorei-te tantos dias
Até que perdeste a cor.
És sombra da antiga flor,
Daquilo que amei em ti.
Agora que estás aqui,
Dormente a enfeitar a sala
Teu cheiro não mais exala
Secou o mel da tua vida
Estás sozinha e perdida
Envolta por minhas mãos
Perdeste teu céu, teu chão
Matei-te com falso abrigo
Que faço agora contigo?