Mendicantes
Reflete o espelho a alma confusa
Que é triste e abusa da humilde sorte
Acreditando que é forte, procurando em vão
Um apoio, o chão, através da própria morte.
Caminhando entre templos, de areia e ossos
Escombros, destroços de corpos humanos.
Sem vida, sem planos ou rumo ou nada
Perdidos na estrada, rastejando em seus panos.
Bichos-monstros de pele encoberta
Não seguem a seta do destino animal
Do destino cabal a que estão submetidos
Já foram esquecidos por esse mundo anormal.
Vagueiam felizes, pois têm liberdade
São donos da verdade que um dia cometeram
Infelizes esperam por outra chance, outro passe
Para a estação do enlace de onde vieram.
Párias, canalhas ou outro nome qualquer
Homem, mulher, não importa o rosto
Que dirá o desgosto por que passam – mendigos
Desconhecem amigos, não os há no poço.
Ultrapassam-se almas, sem ao menos sentir
Sem ao menos cair no abismo do eu
Que é como breu, enevoado e sujo
Apenas um feroz sabujo, sem consciência do pobre plebeu.
Ultrapassam-se corpos, vazios e sem sonhos
Assistindo a momentos enfadonhos, repetitivos e sem cor
Sem cor e sem graça, dormindo e enganando os anseios
Entregues a devaneios, talvez desconheçam o amor.
Trocam a vida, uma simples moeda
Fogem da pedra que os acerta sem dó
Mas amarram o nó ao redor do pescoço
Escapando do troço que reduz tudo a pó.
Não há saída, fechou-se o sinal
Não é esse o final apenas por não vê-lo
Olhares de desespero que suplicam por morrer
Quando viver é o último apelo.