Mendicantes

Reflete o espelho a alma confusa

Que é triste e abusa da humilde sorte

Acreditando que é forte, procurando em vão

Um apoio, o chão, através da própria morte.

Caminhando entre templos, de areia e ossos

Escombros, destroços de corpos humanos.

Sem vida, sem planos ou rumo ou nada

Perdidos na estrada, rastejando em seus panos.

Bichos-monstros de pele encoberta

Não seguem a seta do destino animal

Do destino cabal a que estão submetidos

Já foram esquecidos por esse mundo anormal.

Vagueiam felizes, pois têm liberdade

São donos da verdade que um dia cometeram

Infelizes esperam por outra chance, outro passe

Para a estação do enlace de onde vieram.

Párias, canalhas ou outro nome qualquer

Homem, mulher, não importa o rosto

Que dirá o desgosto por que passam – mendigos

Desconhecem amigos, não os há no poço.

Ultrapassam-se almas, sem ao menos sentir

Sem ao menos cair no abismo do eu

Que é como breu, enevoado e sujo

Apenas um feroz sabujo, sem consciência do pobre plebeu.

Ultrapassam-se corpos, vazios e sem sonhos

Assistindo a momentos enfadonhos, repetitivos e sem cor

Sem cor e sem graça, dormindo e enganando os anseios

Entregues a devaneios, talvez desconheçam o amor.

Trocam a vida, uma simples moeda

Fogem da pedra que os acerta sem dó

Mas amarram o nó ao redor do pescoço

Escapando do troço que reduz tudo a pó.

Não há saída, fechou-se o sinal

Não é esse o final apenas por não vê-lo

Olhares de desespero que suplicam por morrer

Quando viver é o último apelo.

Rafael Fontana
Enviado por Rafael Fontana em 24/09/2006
Reeditado em 13/07/2008
Código do texto: T247784
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