BOLINHA DE SABÃO

POEMA:

Você lembra quando a gente

Chegou um dia a acreditar

Que tudo era pra sempre

Sem saber

Que o pra sempre

Sempre acaba

(Renato Russo)

A paixão vem e avassala

Não sei se o corpo ou a alma

Talvez o corpo apenas

Vez que a alma é uma dose do veneno que envenena

E some

Bebe o nada

Mastiga o insosso

Que a boca come

O alvoroço dos corpos que se encontram

E irresponsavelmente se unem

Uma carência que é doente

Só lhe resta um remédio

Os próprios corpos se comunicando

Se contagiando

Se dilacerando

O amor

O grito da saudade

Do ciúme

Do desejo

Do orgasmo

Do perfume:

Às vezes com ares de fragrância suave

Às vezes com o cheiro podre da podridão do homem!

O amor fica lindo, belo e fingido

Dentro de uma redoma frágil, pura e imunda ao mesmo tempo

Não importa se o sexo é sujo e animal

O que importa é o olhar sincero e o bendito

Olho no olho depois do orgasmo

A dor já nasce com o dom de ser perpétua

Por isso o gozo só demora trinta segundinhos

O amor tem problemas irremediáveis:

É inocente e egoísta

Como se um beija-flor beijasse a flor

Dentro de uma bola de sabão

A bola estoura

A flor cai e o beija-flor voa sem mais beijar o néctar

Mesmo assim como o amor...

E como o amor

É a bolinha de sabão:

Uma vez desfeita e estourada

Se desfaz

Se perdendo a paz

Morrendo uma guerra

Na realidade morta da ilusão!