POSTAL EM PRETO E BRANCO DE MARIA

o que vende, maria,

nesta feira barata?

o tempo de estio

que ronda os portais

desta estrada vazia,

por onde não fostes

na caminhada de um dia?

o que vendes,

a preço pesado, maria,

nesta feira barata,

de mãos repelentes

e bocas pejadas?

vendes por ventura

a mordomia,

que a fino trato comprastes?

o que vendes,

em troca do pranto,

do pio do pássaro

preso em tuas garras,

no instante da arribação?

as idéias vazias,

que trazes consigo, maria,

não encontram preço,

nesta feira barata;

porque não te aventurastes

a avistar o arrastão.

porque não fostes à campina,

ao medo do sonho,

e te quedastes ao medo,

quando o preço subia.

as idéias vazias,

que vendestes um dia

soçobram ao arroubo,

de teu manto de máculas,

onde escondestes a ironia

que a gente não via.