Estrela


Engoli seco outra vez,
Outra vez "tremi nas bases"

Tremi de insegurança,
Agitando a confiança
Refleti: "Ser ou não ser?"

Senti o peso da vida
Senti a dor da ferida,
De viver num mundo louco
Trabalhando sem descanso
E recebendo tão pouco!

Sou professor e daí?!?

Alguém "aí" no Brasil
Precisa de professor?

Sou apenas "fessorinha"
...
"Funaro_foi o maior!"
"Tancredo_Que grande homem"
"Dina Sfat_Grande atriz"

"Escadinha?_Sei quem foi!"

"Professores?
Do primário??!!

(ou se a custo conseguiu
ensino universitário??)

Não confio muito neles,
Falam tantas abobrinhas!
Alguns escrevem errado...
Deviam estudar mais!!"

...
Volto agora do delírio

Eu , fessora, sou mais uma
Consciente do valor
Que temos para os pequenos
Que sentam em nossas salas
que crescem junto conosco

Que nos bebem, nos devoram
E podem ser no futuro
O que talvez não sejamos
Por escolher no Brasil
Uma linda profissão
Que não tem valor nenhum!

...
Não vou ficar na história
Se morrer de infecção
Se estiver cancerosa
Se parar o coração...
Ou enlouquecer de vez,
e tornar-me perigosa!!!

Com as contas a pagar
e tão pouco a receber
Só consigo a proeza
De ir pro SPC...

...
Mas aqui fora do reino
Descobrimos o valor
De se doar tanto, por pouco!

Sou ESTRELA
Todo ano, estréio em minha sala!

Minha platéia querida
Me aplaude sem saber
Que talvez, lá no futuro,
Seja um nobre senador,
Eminente deputado
Ou grande governador!!!
...
E esqueça as origens,
e esqueça de aumentar
Salário de professor!


(Inês em 1990)
Inezteves
Publicado no Recanto das Letras em 12/09/2007
Código do texto: T648663
INEZTEVES
Enviado por INEZTEVES em 14/10/2010
Reeditado em 23/04/2015
Código do texto: T2555658
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