Dor Fractal

Hoje eu estou aqui, sentado no meio-fio

Preso a certas dores, sangrando incessantemente

Isso não é sobre ser feliz ou ser melhor

Trata-se das escolhas e da falta de certas pessoas

Eu vivo remoendo certas perdas

E sempre me pergunto por que não pôde ser diferente

Por que precisou ser tão doloroso

Isso me vence diariamente, por que você está sempre aqui

Fui me entregando a uma vida que não era minha

Levantando uma bandeira de cores estranhas

Pregando uma verdade que não era minha

Por um sorriso seu, eu perdi toda a minha vida

Eu acordava nos braços de uma manhã morna

Adornada pelas belas curvas do seu corpo

Extasiado pela demente felicidade que me gerava ser assim, seu

Morto numa vida que colhia superficialidades

E era tão real, era tão doloroso

Saudades que só pertenciam a um conto antigo

Mas a invariável vontade de partir sempre batia

Na cama o teu corpo quente ao meu lado

Na vida tua alma desgraçando a minha criatividade

E eu me perdia tão inocente nos teus predicados

Cheguei a trair a mim mesmo em corpo e alma

Traindo a idéia dessa felicidade fractal que se diluía após cada dor

Então um dia o adeus chega

Sem perguntar se estamos preparados

Eu me sentei na sua calçada, esperando a porta reabrir

Anoiteceu e eu ainda estava lá, decidindo se era a hora de morrer

... E morri! E morro! Cada dia mais

As areias foram cobrindo cada marca sua em minha vida

Mas o teu cheiro persiste correndo na brisa doce da tarde

Quando, quando tudo perdeu o sentido?

... Se é que existe um sentido