Recomeçar

Nossa geração não quer mais sonhar

não quer mais nem acreditar

que podemos ser meninos

que o corpo não nos trai

que somos nós, que o traímos

eu nem durmo preparando travessuras

açúcares do meu dia, em festa,

ranhuras que busco nas fissuras

e brinco até do que não presta

quero a farra, não quero sangrar

não quero ir ao que não tem jeito

quero fazer do meu riso, meu gargalhar

o meu hino, a ave do meu peito

eu ainda, sou mesmo, uma menina

que apronta até não mais poder

que dança com a molecada na esquina

e, às vezes, faz birras de doer

e insisto em cantar diferente, recomeço

vou no limiar, na corda, desafino

e talvez um dia te prove que não meço

um homem só pelo seu desatino.