Casas de cal
Casas de cal, ruas onde pedras
Já mansas se deixam pisar
Na calma duma tarde que dura
Entre os olhares, tantas vezes cansados, de quem passa
Por entre o ar quente da planície.
O cheiro da terra e os horizontes tão longe
Sub um céu sempre grande, sempre maior
Nas gentes o encanto perdido duma vida simples
Homens falando e mulheres em velhos lutos
Uma tristeza leve no ar, melancolia
Ou talvez apenas a portuguesa saudade do que não foi…
Depois de uma esquina sempre uma taberna
Um copo de vinho, um amigo
E a magia misteriosa do cante
Que se funde por entre as ruas
Com o encanto da cal já cansada de brilhar
E com um rumor lento de vida
Que a brisa da noite obriga as arvores a confessar
A união suprema, num paganismo tão velho
Que aprendeu a esconder-se nas cruzes e nas igrejas
O homem e a terra juntos, nus, puros
Num lugar onde o tempo se demora
Descansando e esquecido da pressa
Num lugar de serões, de luares, de amores
Num lugar onde velhos anciões repousam
Sentados á porta as mãos já cansadas e um olhar
Sempre tão cheio de estorias e memorias
Tudo aqui, sempre aqui, num lugar aquém-do-Tejo
Tiago Marcos