Casas de cal

Casas de cal, ruas onde pedras

Já mansas se deixam pisar

Na calma duma tarde que dura

Entre os olhares, tantas vezes cansados, de quem passa

Por entre o ar quente da planície.

O cheiro da terra e os horizontes tão longe

Sub um céu sempre grande, sempre maior

Nas gentes o encanto perdido duma vida simples

Homens falando e mulheres em velhos lutos

Uma tristeza leve no ar, melancolia

Ou talvez apenas a portuguesa saudade do que não foi…

Depois de uma esquina sempre uma taberna

Um copo de vinho, um amigo

E a magia misteriosa do cante

Que se funde por entre as ruas

Com o encanto da cal já cansada de brilhar

E com um rumor lento de vida

Que a brisa da noite obriga as arvores a confessar

A união suprema, num paganismo tão velho

Que aprendeu a esconder-se nas cruzes e nas igrejas

O homem e a terra juntos, nus, puros

Num lugar onde o tempo se demora

Descansando e esquecido da pressa

Num lugar de serões, de luares, de amores

Num lugar onde velhos anciões repousam

Sentados á porta as mãos já cansadas e um olhar

Sempre tão cheio de estorias e memorias

Tudo aqui, sempre aqui, num lugar aquém-do-Tejo

Tiago Marcos

chomanno
Enviado por chomanno em 10/10/2006
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