O luar fingido dos candeeiros

O luar fingido dos candeeiros

Mostra o nevoeiro sólido e difuso

Que ao longe um sino parece querer espantar…

Sigo na mesma rua de sempre

Com os pés gastando-se contra as pedras gastas

Escutando o rumor a vida que a noite abafa

E como uma brisa chega-me um prazer triste

Que não percebo

E que é comum na nossa gente, pelo nome de saudade

Vem com um abrandar de tudo em mim

E sinto saliências, falhas no tempo que se arrasta pesado

Por entre o ar fresco que sinto na cara

Os meus olhos param e enchem-se do vago das coisas

Em buscas que não sei dizer

E tudo se dispersa no nevoeiro

(Mas faltam os deuses heréticos e El rei não veio

E não houve ainda Império)

Restou-me vaguear na tentativa de que cada passo

Se aproximasse algo…

Por entre o nevoeiro denso a prender um luar falso de Inverno

Recordando tardes de verões mortos há muito

Tardes onde não havia mais nada fora do ar limpo e quente da rua…

E depois quando o sol deixava prolongar as sombras

Até que envolviam tudo eu ia para casa

E esperava a dormir que outra tarde nascesse

Era tudo tão fácil… tudo tão certo

(que não tinha percebido ainda porque inventaram deus)

O meu deus era a água fresca dum jardim

O verde da relva e uma qualquer bola de futebol

É incrível como tudo tinha sentido

Depois houve um dia em que deixei de ter medo do escuro

E não recuei quando o sol cansado deixou avançar as sombras

E não sei porque, mas não voltei a casa

E nunca mais voltei a casa

Nem ás tardes

Nem ao verde dos jardins

E estas ruas são mais frias de noite

Tiago Marcos

chomanno
Enviado por chomanno em 10/10/2006
Código do texto: T260637