Ah, pois senhor, e agora?

Lá, onde a multidão de pára-brisas desvanecidos se congelam

Ouço o ranger de meu dedo escrevendo na vidraça palavras incompletas

E a força que seria bem vinda nesses veraneios multicoloridos de carnaval

Tem-se no ranger do meu dedo, a morada de uma frase sempre perplexa

Lá, que às vezes passo, às vezes choro por perto na tentativa de despertar nas gotas citadinas desta chuva anêmica um pedaço de emoção

Quero transbordar de mim gotas perplexas

Quero me estilhaçar em mil tiros de vidro

Assim como daqui posso ver o pasto verde se azulando perante a força destas onipotentes nuvens garatujadas no firmamento

Estou simples, simplesmente aqui, no torpor de uma criança na cochia

Simplesmente não posso conseguir ouvir as aclamações que se envaidecem de liberdades nestas palmas mal escritas

E hoje, assim que percebo apenas meu corpo neste solo minguado

Por perto de mim, abre-se caminho um primaveril de saudades, ah, deus, quantas mais saudades não me cabem

Sigo por perto, apareço de minha face estreita invadindo dois círculos de sabão

E sei, assim como é, que já não me cabem mais no peito, estes cacos mal escritos de vidros fugidos.

Longe desta intransponível miscigenação de uma neblina que cai em volúpia nos meus dedos encarquilhados de uma espera afoita

Por de baixo da terra ouço algo vindo, criando coragem bruta até que se exploda me erguendo em liberdades caídas no céu

Sinto, amoleço esta próspera santificação deste lugar ao nada, e no nada o lugar por nada

E no teto meus pés por cima, e nos subsolos infestados de pavores borrifo esta paixão escondida percorrendo labirínticos desafios insuperáveis na rotina cordeira

Na aleluia de quando chegas-te até mim, pega minha mão, minha esperança toda você pega, você ferra, e arranca minha mão num ato de prazer em conhece-lo

Vasto, cresce, planto e como, arranco e como até que eu vomite a este chão o próprio chão pelo qual espero

No chão pelo qual espero,

Pelo qual o chão sai da barriga

O chão desce, ergue, volta a barriga, doce

Desce, acende, ilumina, jabuticabas seguradas na mão num escuro magnífico

Engulo os caroços de uma juventude que amassada numa bola de papel

Na bola de papel acredito

Espero que ela abra e desamasse

Que desamasse e torne-se diabolicamente tênue

O teto não me segura, comprimo esta coragem e por mais que eu a queira nos regaços é impossível poder quere-la

Não ah mais nada, ah uma lamparina nas mãos, e por me veres com a lamparina, logo me cedes o escuro. Assim por diante deitamos na noite que despenca.

E tu? Aqui? Lá? Sim, pra sempre.

Junior Monteiro
Enviado por Junior Monteiro em 10/10/2006
Reeditado em 13/10/2006
Código do texto: T261330