Interlocução com Neruda



Não
Não creio que o amor
Pode sabotar a alegria
Nem o sorriso que brilha
Na face de quem ama
Não
Não pode um sentimento grandioso
Atirar
Alguém no fundo do poço
E lá deixá-lo
Entregue à própria sorte
Sem norte
Sem guarida


Se é lá
No fundo do poço
O lugar a que me destina
A tua vontade
Por piedade
Sai da minha vida
Não te atrevas a me chamar de querida
Se na verdade não tens por mim
O mesmo desvelo que por ti
Declaro

Sem amparo
Sem laço e abraço
Enternecido
Embebido
Em aromas relaxantes
Não existe primavera
Amorosa
Não
Não me atires no poço
Do aviltamento
Não aceito esse lugar

Pra amar
é preciso complacência
Algo que é maior que o prazer
Se caio tu me estendes a mão
Se choro
tu me ofereces um lenço
De cetim
Pra não assustar meu pranto
E
Se lá no poço insisto em ficar
Tu te lanças nele
Inteiro pra me resgatar

Mas não temas
Não vou abrir mão
Do mundo de ternura que me ofereces
Nem deixarei de postar
Minhas mãos em preces
Pedindo a Deus
Que o poço
Não seja o destino de nosso amor
Quem ama quer claridade
Quer sol
Calor
Verdade
O escuro do poço
O mofo
O abandono
Nada tem do código amoroso
Por mais que amar pode ser também penoso
É na luminosidade do dia
E na quietude da noite
Cujas estrelas surgem até
Quando nuvens escuras
Insistem em cobri-las
Que os amantes se entregam
Se entendem e se refazem

Então
Não temas, amor de minha vida,
Não mergulharei na dúvida
Ou na insegurança
Que invadem vez em quando
Um coração apaixonado
Não e não!
Quero todo o teu calor
E aceito seguir te amando indefinidamente.
amarilia
Enviado por amarilia em 17/11/2010
Reeditado em 24/03/2018
Código do texto: T2620453
Classificação de conteúdo: seguro